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Conselho de AdministraçãoLGBTQIA+ em Conselhos / LGBTQIA+ in Boards of Directors

19 de maio de 2021

Eleito, o conselheiro de administração chega em uma primeira reunião e se apresenta aos demais. Alguns novos, outros já com alguns mandatos, conversam e o tom é amistoso, falam em futebol, nas famílias, nos netos. Até que chegam no conselheiro novo. Perguntado sobre os filhos e netos, este diz ser casado, mas que não tem filhos. A pergunta é imediata: “mas sua mulher não quis filhos?” O conselheiro responde: ”sou casado, mas eu e meu marido decidimos não ter filhos”. É comum, no meio corporativo de conselhos, a brincadeira de que em reuniões de diretoria sejam mostradas fotos de filhos. E, nas de conselho, as de netos, tendo em vista a senioridade esperada dos seus membros (muito embora haja muitos conselheiros mais jovens e muito competentes).

O clima na sala fica constrangedor. Quem perguntou, claramente não estava preparado para receber essa resposta. Coube ao conselheiro homossexual trazer outro tema para a roda que se formara, assim “quebrando o gelo”, pois o silêncio dos demais foi imediato.

Situação acima apresentada retrata com bastante fidelidade o que aconteceria em expressiva parte dos conselhos de administração deste país. As companhias buscam estratégias para atingir vários mercados, dentre os quais se encontra a classificação de “diversidade”. Pensam normalmente em diversidade de gênero e racial, assim contemplando o mercado das mulheres e daqueles que não são brancos. Pois é, mas há diversidades  que as companhias não estão contemplando. Uma delas, a comunidade LGBTQIA +.

Ainda que haja uma comunicação específica para este grupo, como claramente se vê nos comerciais e anúncios, sempre fica aquela dúvida: “mas essa empresa realmente pensa assim ou está exclusivamente querendo atrair o Pink Money?”. Será que a empresa tem políticas de gestão que levam em consideração a minha comunidade?

Perguntas como esta passam a ser cada vez mais feitas pelo mercado em geral, quer sejam por consumidores, quer sejam por investidores. Estes, inclusive, em algum grau, já devem seguir regras específicas sobre diversidade ao efetuar a sua alocação de recursos.

O conselheiro descrito acima, antes de ser eleito, participou de várias entrevistas com investidores e/ou seus representantes, nacionais e estrangeiros. Estes demonstraram grande interesse no fator diversidade e como ela contribui para um processo mais equilibrado de tomada de decisões. Já os nacionais, lamentavelmente, estavam mais com o foco no resultado, e em prazo relativamente curto.

Que pena. Quantos recados mais o mercado em geral terá de dar aos investidores para que expandam os seus horizontes no âmbito da diversidade? Assim como aconteceu com a governança corporativa, cuja dúvida passou a ser de quando implementá-la, e não mais questionar a sua validade, o tratamento apropriado da diversidade segue o mesmo caminho.

Que pena, mais uma vez.

E, que fique claro: não se trata da busca de uma reserva de mercado, mas sim de agregar novas competências aos conselhos, além das já tradicionais e reconhecidas. Não se trata de trocar um pelo outro, mas sim de somar um ao outro. As companhias não estão ávidas atrás de conselheiros com competências para atuar em disrupção nos negócios? A tarefa ficará mais difícil se os conselhos não contarem com todos os recortes da diversidade. Assim, já passou a hora de que seja inserido no mapeamento para a escolha de conselheiros, também representantes LGBTQIA +.

Em um país no qual temas de Recursos Humanos não são tratados em boa parte dos conselhos, pois são considerados “tema de gestão”, o desafio é enorme. Mas não nos deixemos levar pela imponência da tarefa. Em tempos onde a agenda ESG passou a ser mandatória, consumidores e investidores irão cada vez mais apurar os seus requisitos e as condições para fazer negócios e para investir em empresas.

Quem não estiver ligado, irá perder mercado. Ou perder recursos advindos de investidores. Ou os dois.

A questão está posta. A mim parece que, em tempos de ESG, é a coisa certa a fazer.

Aos leitores que pensam que o personagem retratado como conselheiro neste artigo não existe e que tal situação é fantasiosa, lamento desapontá-los. Este conselheiro sou eu.

Robert Juenemann

Elected, the member of the Board of Directors arrives at the company for the first meeting and presentes himself to his peers. Some are new, others are members of previous consecutive terms that have been reelected. The conversation is pleasant and is about soccer and family, including grandchildren. At a certain moment, the new member is asked about his children and grandchildren. He responds saying that he is married, but doesn´t have any children, so no grandchildren as well. Immediately, he is asked: “didn´t your wife want kids or was it you?”. The new board member answers that he is married to a man, and they have decided not to raise children.

The mood in the board room gets kind of heavy, as the other ones don´t know how to evolve with th conversation, so the elected board member takes the lead and goes ahead, introducing another subject of conversation, using that as an ice breaker.

The above mentioned situation reflects exactly what would happen in the vast majority of Boards of Directors in Brazil when faced with unexpected diversity situations. Most companies here are finding ways to reach out new market niches, among which those identified as within the “diversity” group. The focus is usually on gender and racial diversity, which are obviously important. However, the are far more “diversities” that haven´t yet been properly adresses. One of them, the LGBTQIA+s.

Even though specific communication ads and campaigns have been presented to this market niche, LGBTQIA+ members really wonder if companies are only referring to them to attract the Pink Money or if these companies are really taking LGBTQIA+ policies in consideration when running their businesses.  Each time more the market is looking for cohesiveness on what is said and on what is done.

Questions like that have become much more often in the market by consumers and investors, among others. The latter already have, to a certain degree, limitations to be observed when allocating funds for investments.

The above mentioned member of the Board of Directors, prior to his election, participated in several interviews and discussions with investors and investment managers, nationally and internationally. The latter showed great interest for the diversity factor and this add up in the process of decision making in boards whilst the national investors and invesment managers were much more focused on profits and short term views.

What a pity. How many more messages will the market have to address to investors so that they expand their views and horizons within the diversity issue in regards to sexual orientation? As it happened in the past with corporate governance, the question is not whether the best practices will or not be implemented, the only remaining question is when. That also applies to what is being discussed here.

Once again, what a pity.

And let´s be clear : this is not a market reserve for the LGBTQIA+ Community, but to add new competencies to board members, in addition the traditional ones. It is not about trading competencies, but yo add new ones. Aren´t the companies eager to find members for the Board of Directors with competencies in business disruption? The task will certainly get harder if Boards don´t count with all aspects of diversity. The time to insert sexual orientation within criteria for choosing board members is yet come.

In a country where Human Resources Policies are not considered to be part of the Board´s responsibilities and duties, as they are considered by many to be dealt with at the C-Level, the challenge is huge. Let´s not be afraid by the relevance of the subject. In times where the ESG Agenda has become mandatory, consumers and investors will each time more refine their requirements to do business with and to invest in other companies.

Whoever is not in tune with whats is going on, will miss the market. Or perhaps be overlooked by investors. Or maybe both.

The issue is on the cover pages. In times of ESG, it seems more than appropriate to address the LBGTQIA+ discussion upon selecting Board Members. It is the right thing to do.

To the readers that might think that the described situation doesn´t exist and is less likely to happen in real life, I am sorry to disappoint you. This Board Member is me.

Robert Juenemann

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